terça-feira, 3 de setembro de 2013

Estudo revela: vírus amazônico tem ação mais rápida que o da dengue

Um vírus amazônico que causa sintomas parecidos com os da dengue teve parte de seu mecanismo de ação desvendado por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O vírus consegue invadir as células de hospedeiros mais rapidamente que os vírus da gripe ou da dengue.
É mais um sinal indicando que é preciso monitorar com cuidado o vírus Mayaro, o qual, por enquanto, afeta principalmente pessoas que adentram a floresta.
“Pelo que sabemos, ainda não aconteceu um surto urbano, mas existe um perigo real”, disse à Folha o doutorando Carlos Carvalho, do Laboratório de Biologia Estrutural de Vírus da UFRJ.
Carvalho apresentou os novos dados sobre a dinâmica de ataque do Mayaro durante a última reunião da Federação de Sociedades de Biologia Experimental (Fesbe), realizada em Caxambu (MG).
Ele ressalta que o vírus é conhecido desde os anos 1950, com cerca de mil casos confirmados de infecção (o número real deve ser maior por causa da semelhança da doença com a dengue).
RUMO AO AEDES?
Em laboratório, já ficou demonstrado que o Mayaro pode ser transmitido também pelo mosquito aedes aegypti, famigerado vetor da dengue. Se o vírus evoluir de modo a “colonizar” o aedes aegypti com mais frequência e eficiência, estaria armado o cenário para a transmissão urbana do patógeno.
Não seria uma hecatombe – não há casos de mortes causadas pelo Mayaro –, mas o dano ainda seria grave, porque o vírus leva a inflamações nas articulações.
Havia pouca informação sobre como o Mayaro chegava às células do hospedeiro, e aí é que entra o trabalho da equipe da UFRJ. Os pesquisadores usaram uma espécie de marcador fluorescente para acompanhar o trajeto do vírus rumo ao interior de células do macaco-verde-africano (Chlorocebus pygerythrus).
O vírus Mayaro toma partido de um processo natural da célula, a endocitose, na qual ela traz para dentro de si produtos que “interessam”. O vírus simplesmente imita uma dessas moléculas e é “endocitado”, como se diz.
O processo leva três minutos para acontecer, contra dez no caso do vírus da dengue.
A pesquisa também achou indícios de que, nesse processo, o vírus se funde a uma membrana de uma das organelas (os “órgãos internos” da célula). O próximo passo é descobrir qual.
“A gente precisa dessas informações para pensar numa estratégia racional contra o vírus. Do contrário, vai ficar sempre tratando apenas os sintomas que ele causa”, explica o pesquisador. (Reinaldo José Lopes/Folha de São Paulo)

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