segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Adesão do Pará: 15 ou 16 de agosto

Comemora-se hoje, 15 de agosto, a Adesão do Pará à Independência do Brasil. Mas é preciso corrigir um equívoco histórico. A data exata da Adesão é 16 de agosto.
Na imagem ao lado, vê-se a ata da reunião da Junta Governativa Provincial que reconhece a autoridade do Império Brasileiro. Esta ata esteve perdida por décadas e recentemente reencontrada. Entretanto, por respeito à tradição, o 15 de agosto foi mantido. De toda sorte, sendo 15 ou 16 de agosto, nada é capaz de alterar o real significado do evento.
A Província do Grão-Pará jamais esteve ligada ao Brasil. A distância e as complicadas condições de transportes nos tornavam praticamente autônomos em relação à então capital, Rio de Janeiro. O relacionamento com Lisboa, capital do Reino de Portugal, contudo, era estreita e muito lucrativa para a elite portuguesa.

Por conta disso, o 7 de setembro de 1822, ao invés de causar euforia, trouxe uma tensão crescente entre portugueses, chamados de reinóis, e brasileiros, que, unidos no interesse por livrar-se dos portugueses, tinham visões diversas sobre o futuro da província.

Os comerciantes queriam tão-somente ligar-se ao Império Brasileiro; os liberais, influenciados pelas ideias libertárias do Cônego Batista Campos, queriam a implantação de um governo que se aproximasse da democracia direta.

A luta entre reinóis e brasileiros alastrou-se pela Província. Cametá, Santarém, Macapá, Mazagão, Monte Alegre, Vigia e Muaná foram palcos de lutas entre as forças de Batista Campos e de José Maria de Moura, general português, comandante d'armas da Província. Nesses confrontos ficou claro que se Batista Campos não tinha forças para invadir a capital, Moura também não tinha poder bélico suficiente para destruir o exército rebelde.

O impasse estava estabelecido. Para rompê-lo, uma trégua foi estabelecida e ambos os lados resolvem decidir suas diferenças no voto. O resultado da eleição da Primeira Câmara Constitucional, em 23 de fevereiro de 1823, não agradou aos portugueses. Temendo a influência de Batista Campos, Maria de Moura resolveu destituir o parlamento.

Em 1° de março, tropas sob o comando do coronel Pereira Vilaça prenderam os membros da Câmara e os espalharam pelas cadeias do interior.

Por outro lado, Batista Campos articulou apoios vindos de outros estados. Em 14 de abril, João Batista Balby, libertário italiano, à frente de militares brasileiros, invadiu o quartel do Corpo de Artilharia, no convento de Santo Antônio, e tomou a fortaleza.

Na batalha que seguiu, a tropa de Balby foi derrotada e apenas dom Romualdo de Seixas impediu a execução sumária dos rebeldes. Não conseguiu, contudo, impedir a deportação, em 23 de julho de 1823, de 267 militares paraenses para Portugal. Apenas 13 chegaram ao porto de Lisboa a bordo do navio "Andorinha do Tejo".

Os portugueses sabiam que corriam risco na capital. O medo tomou conta de Belém. Os fortes do Castelo e de São Pedro Nolasco foram reforçados e guarnecidos. As baterias de Val-de-Caes receberam mais canhões.

Uma longa guerra parecia iminente. Mas, em 11 de agosto, um navio de guerra lança ferros na baía do Guajará. Nela estava John Pascoe Greenfell, capitão inglês a serviço do Império Brasileiro. Ele entrega à junta governativa presidida por dom Romualdo de Sousa Coelho um ofício no qual o almirante Alexandre Thomas Cockrene intima os portugueses à rendição, sob pena de total aniquilamento por parta da frota imperial.

Impressionados pela fama dos militares ingleses, os membros da junta governativa se rendem e assinam a adesão em 16 de agosto. Mais tarde, a verdade é revelada: a tal "frota imperial" consistia em apenas um navio de guerra.

Para não perder a vantagem, Greenfell estabelece uma junta governativa provisória, formada basicamente por portugueses, e alicia os comerciantes e latifundiários brasileiros, prometendo-lhes vantagens, títulos de nobreza e terras.

A revolta popular explode novamente. Batista Campos percebe que a independência é um mero engodo e que trocam-se apenas os indivíduos, mas a dominação continua a mesma.

Os pequenos conflitos ganham corpo e na noite de 16 de outubro de 1823 o 2° Regimento de Artilharia de Belém rebela-se e ameaça tomar a capital. Na madrugada de 17 de outubro, Greenfell reage com extrema crueldade, cercando a tropa insurreta e esmagando a revolta. Cinco rebeldes são executados sumariamente. Batista Campos é amarrado à boca de um canhão e por muito pouco não é assassinado.

Menos sorte tiveram os outros 252 presos naquela noite. Mantidos na cadeia até o dia 21 de outubro, foram levados ao brigue "Palhaço" e metidos no porão do navio com as escotilhas fechadas.

O calor insuportável de outubro em Belém e a ausência de ar e água levaram os homens ao desespero. Para conter o violento protesto, Grenfell determinou que as escotilhas fossem abertas e tiros foram disparados contra os prisioneiros. Em seguida, cal virgem foi jogada sobre eles.

Às 7 horas da manhã do dia 22 de outubro de 1823, foram abertas novamente as escotilhas. Apenas quatro homens ainda respiravam. Três morreriam poucos dias depois e um escapou com graves sequelas. Greenfell pôde, enfim, afirmar que havia "pacificado" o Pará. Mas, a que preço?

As elites portuguesas e brasileiras mantiveram seus privilégios e aumentaram seu poder e influência. A exploração sobre índios, negros e caboclos também aumentou. Estavam estabelecidas as bases para a maior e talvez mais ignorada revolta popular do Brasil. A Cabanagem, iniciada em 6 de janeiro de 1835, durou dez anos e devastou a província. Mas, isso já é outra história... (Fonte: Blog Contraponto)

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