quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Período de tensão na política paraense

CRÔNICAS DO PC
A situação do Brasil no governo do então presidente Washington Luis (1926-1930) sempre foi tensa, do começo ao fim. Embora o presidente tenha tentado esfriar a situação com medidas apaziguadoras, a exemplo da suspensão do estado de sítio, libertação de jornalistas condenados pela Lei de Imprensa, ainda outros prisioneiros políticos da Ilha de Trindade e dos campos de concentrações existentes nos estados do Paraná e Amapá.

Vivia-se um período difícil de falta de liberdade.

Por outro lado, a economia brasileira ia mais ou menos equilibrada, sendo nosso principal produto de exportação o café. Foi quando se verificou o desastre da quebra da Bolsa de Nova Iorque, em l929, tornando-se um problema econômico mundial, a exemplo da crise atual na economia mundial.
A situação brasileira ficou difícil. Os cafeicultores entraram em pânico e pediram ajuda ao presidente Washington Luis, mas não foram atendidos em nenhuma pretensão.

A oposição aproveitou para quebrar a hegemonia política das oligarquias, já que se iniciava a campanha sucessória. Dois candidatos mostravam-se donos da situação: Júlio Prestes, escolhido pelo governo, e Getúlio Vargas, pela ala contrária. O embate foi duro até o último momento, com os grupos se digladiando, procurando ganhar espaço e simpatia do povo.

Como se tornou evidente desde o início, o governo montou um esquema para fraudar as eleições, atuando em l7 estados, coagindo o eleitor e chefes políticos de todas as formas, investindo dinheiro alto na compra de votos. Deu resultado: o candidato oficial venceu o pleito folgadamente.

Após o resultado das eleições, o presidente Washington Luis, considerando-se o maior de todos, passou a perseguir os adversários, dificultando a vida dos parlamentares do bloco contrário. Por outro lado, havia um perigo maior contra o governo: o povo estava descontente. A agitação era tanta que o país marchava para uma revolução.

Com o assassinato de João Pessoa, na Paraíba, o estopim da bomba começou a pegar fogo, preste a causar uma grande explosão. O pavio ficou queimando aos poucos, até que no dia três de outubro de 1930 estoura a revolução no Rio Grande do Sul, ganhando dimensão e apoio em todo território nacional.

Uma junta militar depôs o presidente Washington Luis, entregando o poder, poucos dias depois, para o caudilho revolucionário Getúlio Dorneles Vargas. Começaria, assim, a era Vargas, que duraria até 1945.

Os estados passaram a ser governados por interventores. No Pará é nomeado o tenente Magalhães Barata, que fica no poder até 1935. Umas das medidas absurdas que tomou na sua administração foi a instituição da “Lei Seca”, proibindo o fabrico e venda de cachaça, apenas com a intenção de prejudicar os plantadores de cana, donos de engenhos e alambiques.

Foi nesse período histórico da ditadura Vargas que a capital do Pará viveu momentos tensos de rixa política, piorando com a chegada do senador Lauro Sodré. A primeira atitude do parlamentar foi promover uma revolução contra a família Lemos, o que causou muito reboliço em Belém, dividindo a população em pros e contras.

Acompanhando o senador em sua comitiva, estava um médico paraense, radicado no Rio de Janeiro, conhecido como Doutor Noca, um verdadeiro dom-joão, no que diz respeito a conquistas. Só foi chegar à terra já conhecida e pôs em prática toda sua artimanha de conquistador.

O médico tinha uma facilidade enorme de ser notado pelas mulheres. Além de ser médico cirurgião, era solteiro, alto, de porte atlético, louro, olhos verdes, vestia-se com elegância e tinha os bolsos recheados de dinheiro. Homem com essas características é um chamariz para mulheres.

Certo dia, ao entrar em casa um comerciante, portador de nome tradicional, encontrou em colóquio amoroso o Doutor Noca e sua estimada esposa, os dois abraçadinhos e beijando-se. O infeliz comerciante segurou-se na parede para não cair de susto. Refeito, encontrou voz para exclamar: “Senhor Doutor!”

E como a situação política continuava quente, sacudiu a cabeça e disse totalmente conformado: “Felizmente, é um correligionário, amigo”.

Pedro Cláudio M.Reis (PC) / E-mail: pcmourareis@yahoo.com.br

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