segunda-feira, 22 de junho de 2009

O coronel e a empregada

CRÔNICAS DO PC
Todos nós vivemos os anos que Deus nos deu naquela rotina natural do ser humano. Trabalho ativo, conquistas, derrotas, alegrias, sofrimentos, prazeres, dores, tombos, saídas para o melhor, enfim, somos uma mistura de fracassos, derrotas, vitórias, até chegarmos à idade dos inativos. Por merecer, somos encostados, com uma boa (raríssima) ou péssima aposentadoria (a mais comum).

Foi desta maneira que aconteceu com o coronel Valdivino da Silva, militar de carreira, da arma do Exército. Solteirão por opção, passara a vida no apego à carreira e atividade profissional, vivendo em várias partes do Brasil, sempre respeitado e valorizado em todos os quartéis por onde passou.

Agora aos 65 anos de idade, reformado da carreira militar, com bom soldo, resolveu comprar um sítio nas imediações da cidade, preparando o corpo para a velhice e a alma para a eternidade.

Católico praticante, para ajudar a tomar conta da casa, contratou uma mulata sacudida, quarentona, quente, de nome Balbina, também, muita religiosa, que todos os dias se recolhia a uma das salas da casa, onde havia muitas oleogravuras, perfeitas cromolitografia de santos, e entregava-se a verdadeira crise de misticismo.

A coragem que, na mocidade demonstrava diante dos homens, transformava-se agora em covardia diante de Deus. Lembrava-se, no entanto, muita saudosa, de suas aventuras amorosas passadas em braços queridos.

Ah! Como foi bom! Gostoso! Suspirava com a mesma antiga mania de revirar os olhos achando bom. E sorria satisfeita, pensando em sua decisão de fibra, nunca até o momento arrependida-se de tê-la tomada: “Podia morrer velha, moça velha e donzela, nunca”! E pedia perdão pelos seus atos extremos, de intensa volúpia, todavia, era assim que se realizava. Fala a verdade. Que foi bom, afirma ter sido, para não dizer, maravilhoso, espetacular.

Por outro lado, o coronel Valdivino da Silva, em outra sala, catecismo nas mãos, rezava terços, ladainhas, orações, a andar de lado a outro. Alto, mestiço, bigodudo, cabelos grisalhos, andava assim quilômetros e quilômetros no ambiente estreito daquele compartimento. Em certo momento, levado pelos efeitos das orações, se atirava devotamente de joelhos ao tapete, apertando o catecismo contra o peito e gemendo como um iluminado: “Meu Deus!... Meu Deus!... Dê-me forças... Fortificai-me. Guia-me, Senhor!...”

Intrigada com aquele isolamento de todos os dias do coronel Valdivino, Balbina resolveu ser curiosa, aproximando-se da porta do quarto, e colar o ouvido à fechadura, até que, a certa altura, ouvindo as primeiras súplicas do velho militar, achou de intervir na esperança de sair-se numa boa. Bateu à porta, chamando o coronel: “Seu coronel, seu coronel, preste atenção”!

“Que é, menina?”, respondeu.

“Seu coronel”, repetiu Balbina, “peça ao Nosso Senhor que lhe fortifique, que lhe dê forças, potência”.

E com os olhos arregalados, as feições transmitindo fervor ardente, lembrando-se do ativo passado, continuou falando: “Porque guiar, seu coronel, eu guio para o senhor vir até mim e eu acender sua chama que está apagada”.

“De que maneira, mulher de Deus”?, indagou.

“Assim, meu velho, dessa maneira...!”, e agarrou o velho coronel pela cintura, apertando-o com força, fazendo-o sentir o calor de seu corpo e a força do abraço. O velho coronel fungou, gemeu, grunhiu e exprimindo aqueles contínuos oh oh oh oh oh, o que depois revelou o motivo dos espasmos, com um largo sorriso e grande satisfação: “Minha querida, foram bom demais os seu apertos. Eu estava cheio de gases e fiquei aliviado. O bucho esvaziou, agradeço, dizendo muito obrigado”.

Balbina não gostou. De outra vez, esperava que desse certo o que desejava, e encontrasse o altivo militar sem tanta flatulência.

Pedro Cláudio M.Reis (PC) / E-mail: pcmourareis@yahoo.com.br

Um comentário:

Anônimo disse...

Gosto muito de suas colunas , sou seu fa.Quero um dia ter o prazer de te conhecer.Abraco